Presidente da República Aníbal Cavaco Silva inaugura Fundação Manuel Viegas Guerreiro
[1 Setembro 2009]
Foi com pompa e circunstância que a sede da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença, foi inaugurada na passada sexta-feira, 28 de Agosto, numa cerimónia presidida pelo Chefe de Estado, Cavaco Silva, e com a presença de muitas figuras da região ligadas à política, à cultura e à sociedade civil. “Um acto de coragem e um alertar para a sociedade portuguesa e para os agentes políticos para aquilo que é preciso fazer para defender o interior do país, a sua cultura e as suas tradições”. Foi desta forma que o Presidente da República se referiu à criação das instalações da Fundação Manuel Viegas Guerreiro num “interior esquecido, abandonado e com tendência para a desertificação” e ao papel desta instituição que “tem desenvolvido uma actividade intensa no domínio científico, cultural e na defesa do ambiente, contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento cultural, económico e social do Algarve”. Aliás, Cavaco Silva salientou a importância regional e até internacional deste novo pólo cultural. “Este edifício inclui um Centro de Estudos Algarvios e por isso vai olhar não apenas para Querença, vai olhar para todo o Algarve e tem também a ambição de olhar para África”, devido à forte ligação do patrono da Fundação ao continente africano. Neste momento histórico para esta típica aldeia do barrocal o Chefe da Nação quis também homenagear Manuel Viegas Guerreiro. “Não foi apenas uma grande figura do Algarve mas foi também um vulto da cultura portuguesa, um grande académico com trabalhos desenvolvidos em particular nas áreas da antropologia e etnologia, um homem de excelência”, referiu. E tal como o Professor Cláudio Torres que fez uma evocação ao patrono da Fundação, Cavaco Silva sublinhou os dois lados de Manuel Viegas Guerreiro – “o camponês e o académico” – que nunca esqueceu a sua terra, o que o influenciou fortemente na defesa da cultura popular. Para terminar, Cavaco Silva lembrou outras personalidades naturais de Querença que tiveram uma importância fundamental nas áreas da cultura ou da ciência no contexto nacional, particularmente Manuel Gomes Guerreiro, ele que foi fundador da Universidade do Algarve. Passados 18 anos, o agora Presidente da República regressou a Querença para um dia que ficará na memória de muitos. E como o próprio salientou “encontro uma aldeia renovada, no dia em que também foi inaugurada a reabilitação do Largo da Igreja da Nossa Senhora da Assunção, uma bela igreja do século XVI”. Cavaco Silva não esqueceu de referir também os principais pontos de atracção turística de Querença – “as suas festas, a sua fonte, as suas tradições e a sua gastronomia”. Fundação quer ser pólo de atracção para interior A nova casa desta Fundação, localizada no centro da aldeia, conta com diversas valências, entre as quais um auditório com capacidade para 120 lugares, uma biblioteca onde ficará implantado o Centro de Estudos Algarvios e um museu que irá integrar o vasto espólio de Manuel Viegas Guerreiro. Entre outras, as actividades previstas pela Fundação passam pelo apoio e incentivo a estudos científicos na área das ciências sociais, apoio a publicações e estudos, organização de eventos culturais e cursos de formação, acções de investigação, aprofundar a memória e identidade da freguesia de Querença nos seus aspectos turísticos e de lazer. Esta obra foi financiada pelos fundos comunitários (706.020,00€ mil euros) e pela Autarquia de Loulé (302.580,00), totalizando 1.012.160,00€. Valorizar o interior algarvio e do Concelho de Loulé é um dos intuitos desta obra paradigmática do que deve ser feito no interior do Concelho: atrair o litoral ao interior. Com este equipamento, integrado no Plano de Revitalização da aldeia, Querença passará a ser um importante pólo de atracção cultural, abrindo portas ao mundo. É esta também a ideia do seu presidente, Luís Guerreiro, que referiu que os objectivos que norteiam a instituição estão também ligados à vivência da figura ímpar na cultura portuguesa que foi Manuel Viegas Guerreiro. “Ele foi, seguramente, a personalidade académica que em Portugal mais pugnou, dentro e fora da Universidade, pela dignificação das literaturas orais, tradicionais ou populares. Nasceu nesta terra, em Querença, à qual sempre se manteve ligado, percorreu o país e o mundo, e agora regressa, por via da sua obra, à terra natal”, explicou este responsável. Perpetuar a memória e devolver os estudos do seu patrono no âmbito da etnografia, apoiando publicações e estudos, apoiar e incentivar os estudos científicos na área das ciências sociais, organizar eventos culturais, promover cursos de formação, fomentar acções de investigação quanto a factores naturais e ao estudo de impacto das relações humanas sobre o ambiente e contribuir para o desenvolvimento cultural, social e económico do Algarve são as principais metas da Fundação, de acordo com o Luís Guerreiro. Mas tudo isto só será possível, segundo o presidente da Fundação, com uma “cooperação institucional e o encontro de vontades”. “O edifício que hoje se inaugura de grande dignidade e que permite a abertura de horizontes novos e condições estimulantes para o desenvolvimento cultural do Algarve, deve-se em grande medida à conjugação de esforços de várias entidades com destaque para a CCDR Algarve e Câmara Municipal de Loulé”, disse ainda. Nesta ocasião, Luís Guerreiro aproveitou ainda para anunciar que, a par da acção da Fundação em prol do conhecimento e do saber no Algarve, num futuro próximo pretende-se também alargar o seu papel para o continente africano, “por força da ligação de Manuel Viegas Guerreiro a Angola e Moçambique”. “Esta Fundação será um local obrigatório de cultura a partir do interior do Algarve. É nosso desejo que, no futuro próximo, sempre que se tenha de estudar o Algarve, tenha de se vir a Querença”, concluiu. Seruca Emídio apela à realização de Comemorações do Dia de Portugal em Loulé Para o autarca da Câmara de Loulé, uma das entidades envolvidas na construção destas instalações, “valeu a pena o esforço feito, o dinheiro investido, a dedicação a algo que não é só um projecto, mas sobretudo uma causa, uma aposta e um motivo de orgulho para Querença e para Loulé”. Seruca Emídio reportou-se a este espaço como um “centro para reflexão e busca contínua do saber e onde mestres e aprendizes de estudos etnogeográficos encontrarão um riquíssimo espólio bibliográfico” e que será primordial para “o futuro e a sustentabilidade do Concelho”. Numa altura em que o executivo municipal continua a fazer uma forte aposta em termos de criação de infra-estruturas e projectos que possam permitir o desenvolvimento do interior, o edil referiu que, a par por exemplo do pólo Museológico da Água, esta Fundação irá assumir-se como “pólo de irradiação cultural e do conhecimento, tão necessário quanto complementar ao nosso tradicional ‘turismo de sol e praia’, acentuando dessa forma a sua forte identidade sócio-cultural”. O presidente da Autarquia de Loulé voltou a frisar a preocupação em promover o equilíbrio social num Concelho em que existem fortes assimetrias entre um litoral desenvolvido e um interior desertificado e, nesse sentido, referiu as políticas de requalificação e regeneração do património público, bem como a valorização do ambiente e da paisagem levada a cabo nas zonas mais distantes do interior, nos últimos dois ciclos políticos pelo seu executivo. “Estamos numa aposta séria, por um concelho solidário, que se quer inovador mas respeitador das suas tradições, que investe na cultura e está disposto a correr riscos para corresponder aos seus anseios dos seus habitantes”, afirmou. Seruca Emídio aproveitou esta oportunidade para propor ao Presidente da República que, “em ano oportuno, considere a possibilidade de vir a realizar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades na cidade de Loulé”. Também o presidente da Junta de Freguesia de Querença, Manuel Viegas dos Santos, deixou algumas palavras aos presentes neste dia histórico para a sua terra. E quanto à sede da Fundação Manuel Viegas Guerreiro que será um novo pólo dinamizador para Querença, o autarca local referiu que “este acervo cultural é um bom exemplo de consolidação de um projecto que nasce local a pensar global”.