Nuno Júdice, o poeta das metáforas
(1949-2024)
Morreu este domingo o poeta Nuno Júdice. O ensaísta, ficcionista, tradutor e professor universitário faria 75 anos no dia 29 de Abril.
Nascido na Mexilhoeira Grande, Portimão, o escritor conta meio século de obra. Em 2019 foi homenageado na aldeia de Querença, na 4.ª edição do Festival Literário Internacional de Querença, sob a égide de Literatura e Geografias. As fotografias que se publicam, revelam esses momentos.
Autor de 41 obras de poesia, 19 de ficção, 11 ensaios, quatro peças de teatro, soma ainda edições críticas e antologias. Dirigiu revistas literárias como a Tabacaria e a Colóquio-Letras e exerceu funções de conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris, onde também dirigiu o Instituto Camões.
Em 2022, Nuno Júdice revelou ter descoberto um soneto de Luís de Camões, “Cristo Atado à Coluna”, num manuscrito datado de 1666. Encontrou-o na Biblioteca Digital Hispânica, onde se encontram vários outros poetas “do barroco, que merecem ser melhor estudados”, disse, na altura, à agência Lusa.
Em Paris foi conselheiro cultural da Embaixada de Portugal e director do Instituto Camões. Tem livros publicados em Espanha, Inglaterra, Venezuela, França e Itália. Recebeu 17 prémios, entre eles o Prémio PEN Clube (1985), o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1990), o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1994), o Prémio Pablo Neruda, o Prémio da Crítica (2000), o Prémio Prémio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana (2013), e o Guerra Junqueiro e Rosalía de Castro (2018).
Além dos prémios literários em Portugal e Espanha, Nuno Júdice foi também agraciado com Ordens Honoríficas em Portugal, primeiro Oficial da Ordem Santiago da Espada, em 1992, depois Grande-Oficial, em 2013.
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro endereça as mais sentidas condolências à Família e Amigos de Nuno Júdice,
ORAÇÃO CÓSMICA
Una mujer y un hombre arden en su silencio.
Antonio Colinas
No corpo da nave onde um deus se esconde,
sob a cúpula de um céu inscrito na pedra, leio
as páginas do livro do tempo. Por elas
passam as paisagens em que o sol e a chuva
alternam, e nos seus parágrafos ecoa
um diálogo de vivos e de mortos que se
perderam nos desfiladeiros da memória.
E fecho o livro, ouvindo os passos de
quem me irá dar, com as suas mãos,
a oferenda de um bordado de fogo
para acender o horizonte. É com ele que
se iluminam os vitrais em que surge
o rosto em que, da transparência dos olhos,
eu vejo cair uma gota de infinito.
In Uma Colheita de Silêncios