Rasgar Horizontes, o território e as gentes
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) assinala os 50 anos da Revolução de Abril associando Arte, História e Natureza. No próximo sábado, dia 20, inaugura em Querença uma exposição colectiva de artes plásticas. Dois meses depois, a 15 de Junho, há conversa em torno das dinâmicas culturais no concelho de Loulé, no pós-25 de Abril e inaugura-se uma outra exposição, documental, em torno da figura de Gabriel Gonçalves.
Pensamento e arte desenham o programa da celebração de Abril a partir da aldeia de Querença. Sob a epígrafe Rasgar Horizontes, o território e as gentes, a Fundação propõe refletir sobre os tempos em que, no concelho de Loulé, se abriram novos caminhos, no território e no pensamento. O percurso inicia-se com uma exposição colectiva de artes plásticas que inaugura já no próximo sábado, 20 de Abril, às 17h00.
Adão Contreiras é um dos participantes na mostra de arte. O artista contribui com três quadros, do seu tempo na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa: Movimentos Populares, Bairros Clandestinos (ambos de 1978-79 do século XX) e Reforma Agrária (anos oitenta). Numa colaboração com a Associação Casa-Museu José Pinto Contreiras, a exposição integra ainda a tela Liberdades, da autoria de Manuela Santos, oferecida pela artista e arquitecta paisagista à associação. A par desta, poderão ser apreciadas em Querença outras telas de Manuela Santos, nas quais se pincelam a paz, a renovação e a liberdade.
A tridimensionalidade da exposição concretiza-se com três esculturas de Francisco José, médico pediatra. Uma representa Salgueiro Maia, outra, José Afonso e a terceira, os cantautores Adriano Correia de Oliveira, Fausto, José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Vitorino.
A exposição, de longa duração e de entrada livre, poderá ser visitada de 2.ª a 6.ª feira, entre as 9h30 e as 13h00, e entre as 14h00 e as 17h00.
Rasgar Horizontes: palavra e mostra documental
A Fundação activa o discurso e a memória dos tempos dos bailes e das leituras, das audições de música e da preparação de peças de teatro, da efusiva discussão política e propõe dar eco, a 15 de Junho, à vibrante dinâmica cultural do pós-25 de Abril no concelho de Loulé. Para tal, trará a Querença alguns dos que estimularam o colectivismo, o espírito associativo e a construção participada de uma sociedade informada e livre. Entre eles, lembra a Fundação, os que gizaram programas de animação cultural: o caso do emblemático Atlético Sporting Clube.
Numa conversa entre amigos, pretende-se iluminar o período da Reforma Agrária, a partir de Gabriel Gonçalves, natural de Querença, figura incontornável do movimento da Reforma Agrária no Algarve e presidente cessante da FMVG. Em linha de operacionalidade com o Movimento das Forças Armadas no território, Gabriel Gonçalves promoveu a marcha pelo acesso à água potável, à eletricidade, à Cultura. A Fundação presta-lhe tributo, também, através da exposição documental Gabriel Guerreiro Gonçalves, Auscultar e Agir, numa parceria com a Câmara Municipal de Loulé, honrando o seu legado histórico na melhoria das condições de vida das populações locais.
O encontro terá entrada livre.
EXPOSIÇÃO COLECTIVA | ARTISTAS
SOBRE Adão Contreiras
Nasceu em 1944 no sítio dos Gorjões e por aí tem vivido. Por outras paragens, referenciado, enquanto estudante ou professor. Quando ainda miúdo lembra-se de ter apanhado um tabefe da mãe, por trocar por vezes, a ordem da letra “r” nas palavras. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio entre os anos de 1957 a 61. Aí, trocou os pés pelas mãos na gramática e teve que repetir o exame de português para poder entrar nas Belas Artes.
Fervia o ano de 61, lutas de estudantes estendiam-se pelas academias, foi chamado ao director da ESBAL, mais outros, por assinar uma reclamação pedindo mais barro/argila, que faltava na aula de escultura. No fim do 1.º período teve que regressar a casa dos pais. Minguavam os recursos!
Divergiu da tropa guerreira de Além Mar e ficou livre por incapacidade mental, nada de dramático. Ficou preso na armadilha “ Do Boi da Paciência” e enviuvou das artes. Inerte, mas com o coração nas mãos, escreveu e pintou algumas coisas. Fez exposições.
Já empreendedor, antes de tempo, foi obreiro na abertura da lavandaria Sólimpa, em Faro, de cujo nome é autor. Trabalhou nela como empregado e depois patrão. Fez destilações de produtos tóxicos até à uma da manhã, enquanto pelas direcções do Cine Clube de Faro e do Círculo Cultural do Algarve se destilava o odor venenoso da “ dita – dura”, com outros amigos.
Dado o 25 de Abril, logo iniciou uma temerosa aventura – criar uma cooperativa com os trabalhadores. E assim aconteceu, surgindo a Cooplava. Voltou à ESBAL.
Expôs-se, mas não tremeu. Salvaguardando alguns desequilíbrios que atirou para cima das letras – artigos de opinião e intervenção social no “Jornal do Algarve” de Vila Real de Santo António, nos anos de 1969 a 72; colaborações literárias: “Sete Estrelo”, “Aullido”, “Sul”. Publicou até à data dois opúsculos: “Página Móvel Com Texto Fixo” e “Ouro e Vinho”. Não é casado. E além disso foi ex-esperto na produção de eventos.
Nos finais dos anos 80, do século passado, criou o espaço Atelier/Galeria Margem em Faro onde durante toda a década de 90 (início? do obscurantismo cavaquista), se operou alguma resistência cultural e de cidadania; pautaram sessões abertas ao público em geral e mormente aos criadores; -n- eventos abrangendo os vários campos artísticos tiveram lugar. Foi nessa encruzilhada de acontecimentos que se forjaram os contactos com Huelva, por iniciativa de José Bivar, minha, o Zé Maria e o Juan (entretanto falecidos). Foi em busca do Bar 1900 que nós encontrámos o Uberto Stabile , e foi daí que nasceu uma cooperação que deu frutos e que ainda hoje (e bem) com outros protagonistas, dura.
Há muita gente que disso se recorda!
As Belas Artes, em Lisboa, foram um refúgio.
SOBRE Francisco José
Nascido a 6 de Julho de 1955, filho de Francisco José Andrade de Sousa e de Maria Ivone Madeira Correia. Licenciei-me em medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa e especializei-me em Pediatria Médica. Trabalhei nos hospitais de Faro, Abrantes, D. Estefânia, Maternidade Alfredo da Costa, Portimão e finalmente, nos últimos 19 anos, terminei a carreira hospitalar no Hospital de Faro.
Actualmente, sou pediatra num consultório em Loulé que criei para as crianças e tenho como actividades “prazeirentas” a escultura, o saxofone e a leitura.
SOBRE Manuela Santos