IN MEMORIAM LUÍS MANUEL MENDES GUERREIRO
N. 4 SET 1960 | F. 14 AGO 2017
Luís Guerreiro, um ficheiro vivo.
A metáfora é de Lídia Jorge, escritora internacionalmente reconhecida e que se homenageia ao longo de três dias em Querença, no Festival Literário Internacional de Querença. O seu mentor, enquanto presidente da Fundação Manuel Viegas Guerreiro (2000-2017): o “Engenheiro das Letras”.
No dia em que Luís Guerreiro faria 65 anos, arranca na Antena 1 e na Antena 2 a campanha de divulgação do encontro literário, gerado e concretizado na sua aldeia natal.
Lídia Jorge escrevia em 2017 para a abertura da série do jornal Público, Historiadores Amadores (P2, 02.07.2017). Recordam-se hoje essas linhas:
«Sempre que lhe falei da linha férrea entre Lisboa e o Algarve, o Luís sabia das datas e circunstâncias, como se possuísse o dom de um registo espontâneo. O mesmo sobre os militares portugueses do Sul na Primeira Guerra Mundial, ou certas feministas, como Maria Veleda, ou sobre a colaboração salazarista a meia haste na Segunda Guerra, ou o despertar para o turismo no Algarve, ou a emigração dos anos 40, dos anos 50 e 60.
Acresce que Luís Guerreiro é um leitor de Literatura e um conhecedor dos seus autores, o que lhe tem alargado a visão antropológica e humana com que aborda os temas, no plano do discurso histórico.»
Luís Guerreiro nasceu em 1960, no sítio dos Corcitos, em Querença. Com a juventude vivida nos corredores de arquivos e bibliotecas, na busca incessante por livros raros junto de alfarrabistas, fundou, em adulto, uma livraria em Faro, a Odisseia. Nos últimos dois anos da sua vida, fez nascer o Festival Literário Internacional de Querença, promovido pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro, casa que ergueu com um colectivo de filhos de Querença, na também aldeia natal do Mestre.
No ADN do programa, a homenagem a um escritor. Primeiro, Casimiro de Brito, seguido de Teresa Rita Lopes e Gastão Cruz, depois, Nuno Júdice. No regresso do FLIQ: Lídia Jorge e Os grandes navios da Terra, numa alusão à alfarrobeira, em torno da qual se publica, em versão bilingue e ilustrada, o poema narrativo da autora: Alfarrobeira do caminho.
Na 5.ª edição do FLIQ, o pequeno livro de bolso junta-se à colecção do guardador de livros – mais de dois mil – e de centenas de jornais, alojados na biblioteca especializada em Estudos Algarvios que criou e que hoje tem o seu nome. Esta constitui um dos maiores acervos documentais sobre a região.
No dia do seu nascimento, com o FLIQ de novo no éter, voltamos a recordar mais algumas palavras de louvor de Lídia Jorge: «Devo-lhe horas de incitação intelectual, de amizade, de exemplo pela causa da memória como fundamento da construção do futuro. Devo-lhe que, até agora, desde há dez anos, sempre me tenha incluído na sua área de afectos e que nos tenhamos tantas vezes cruzado em tarefas, a maior parte delas quixotescas, tarefas de tentar combater a linearidade do nosso novo mundo. Nesse sentido, enquanto ele mo consentir, sempre lhe hei-de chamar companheiro.»
SPOT Antena 1, caso o perca na estrada ou em casa: