A Biblioteca-Museu Manuel Viegas Guerreiro reúne o erudito e o popular porque ambos cabem no homem de todas as liberdades, como o descreveu, em 1997, Luís Filipe de Matos Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia do Doutor Leite de Vasconcelos entre 1996 e 2012.
«Sábio e curioso incurável», nas palavras Richard Kuba, investigador do Instituto Frobenius, Universidade de Goethe, Frankfurt, construiu uma biblioteca universal e humanista de que é prova a colecção que se encontra em fase de tratamento técnico para posterior disponibilização do respectivo catálogo.
Manuel Viegas Guerreiro dedicou a sua vida a sustentar que a aprendizagem não tem fonte exclusiva nos bancos da escola. Que analfabetismo não é sinónimo de ignorância ou de obscurantismo. Valores que se reconhecem nas centenas de lombadas que reuniu ao longo da vida: «Não há gente culta e gente inculta. A cultura é só uma, tudo o que aprendemos do nascer ao morrer, de nossa invenção ou alheia.»
O Mestre integrou na Academia o estudo de adivinhas, anedotas, provérbios e mezinhas. Até ao final da sua vida registou a voz do povo e foi defensor abnegado de um ensino livre e gratuito.
Além dos seus livros e obra editada, encontra-se nesta biblioteca uma colecção de imagens (fotografia e slides), bobines e cassetes, manuscritos, documentos biográficos, distinções e prémios, trabalhos de alunos, vestuário e mobiliário.
O acervo de Manuel Viegas Guerreiro, constituído ao longo do seu percurso profissional e de vida – que aqui se preserva e valoriza – constitui um pequeno mas riquíssimo arquivo histórico, de elevado valor patrimonial.
Qu’est-ce qui peut amener des ethnologues européens, allemands ou français, à venir dans la bibliothèque de Manuel Viegas Guerreiro, dans ce site somptueux et préservé qu’est le petit bourg de Querença ? D’abord l’intérêt pour l’ethnologie portugaise, mais aussi les projets de recherche tels qu’ils se sont développés ces dernières années entre l’université de la Sorbonne Nouvelle et l’Institut Frobenius de Francfort en intégrant peu à peu les savoirs lusophones, comme lors du colloque « Mythes des origines, point de rencontre en philosophies européenne et africaine » co-organisé avec l’université de Porto en octobre 2020.
(…) En effet, l’idée de rapprocher et de comparer les ethnologies européennes semble pouvoir être un projet porteur pour les années à venir. Si l’on y regarde bien, la bibliothèque de Querença est un microcosme des multiples facettes et de la pensée universaliste que recèle cette ethnologie continentale et que pratiquait déjà à sa façon Manuel Viegas Guerreiro. Ce lieu témoigne d’un savoir très large qui s’ancre dans de multiples domaines, la littérature, avec tous les ouvrages de l’antiquité classiques, depuis les philosophies de Platon et Sénèque jusqu’à l’histoire de Tacite jusqu’au travaux ethnographiques les plus savants, puisqu’il compte parmi les références incontournables de l’ethnologie portugaises. Il est à noter que la fondation, en conservant cette bibliothèque, fait un travail de mémoire très important et souvent négligé de nos jours, tant l’archéologie du savoir est centrale, pas seulement celle qui fonde nos disciplines et pour laquelle nous avons beaucoup à apprendre de ce qui se déroule ici, mais aussi de cette généalogie propre à chaque chercheur et que l’on ne peut reconstituer.
Excerto do artigo Dans la bibliothèque d’un savant : regards croisés entre le Portugal, l’Allemagne et la France, 2021.
Autoria: Egídia Souto, professora universitária na Sorbonne Nouvelle e investigadora em Portugal, Paris, França e Frankfurt, Alemanha
Jean-Claude Georget, professor universitário na Sorbonne Nouvelle e investigador em Paris, França e Frankfurt, Alemanha
Richard Kuba, investigador no Instituto Frobenius, Universidade de Goethe, Alemanha