O Algarve e o Turismo – Um relacionamento complexo
POR JOSÉ GAMEIRO
É com todo o prazer que aceito o convite da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, para participar nesta iniciativa de reconhecimento e relevância do precioso legado do Luís Guerreiro, prestando igualmente uma merecida homenagem à sua profunda dedicação e generoso contributo, no desenvolvimento e concretização do Centro de Estudos Algarvios, em resultado da sua grande paixão, não apenas enquanto dedicado e atento “colecionador de livros”, mas sobretudo como grande “colecionador de valores e amigos”.
Com ele e na companhia de mais alguns colegas de museus da região algarvia, iniciámos, no último trimestre de 2006, os primeiros passos na procura de uma plataforma museológica de cooperação e partilha, tendente à construção de uma pioneira Rede de Museus do Algarve (RMA), que seria formalmente constituída em Albufeira em 16 de outubro de 2007.
E é precisamente dentro do espírito coletivo de contribuir para uma melhor e mais diversificada valorização regional, onde o papel do Luís Guerreiro seria decisivo, que continuamos, desde então, a trabalhar dentro dessa desafiante realidade museológica, tentando acrescentar mais cultura e património a um Algarve demasiado formatado e absorvido pela dimensão turística.
Essa foi a razão porque escolhi o número 2 da revista Promontoria Monográfica – História do Algarve, intitulada Fragmentos para a História do Turismo no Algarve, como publicação a destacar nesta minha participação em que igualmente o Luís colaborou, dando-nos conta no seu texto da «Primeira ação de propaganda externa do Algarve: A visita de jornalistas ingleses em 1913».
Esta segunda publicação, de um total de três números editados pelo Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC), da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, teve a coordenação de Alexandra Gonçalves, António Paulo Oliveira e Cristina Fé Santos e apresenta-se estruturada em três grandes capítulos temáticos, sendo o primeiro «Património, Cultura e Turismo», seguindo-se «História do Turismo» e finalmente «Infra-estruturas e Turismo».
Para além do próprio Luís Guerreiro, colaboraram nessa edição Vítor Neto, Alexandra Gonçalves, José Gameiro, Ana Ramos, João Pedro Bernardes, António Faustino Carvalho, Artur Barracosa Mendonça, Miguel Godinho, Cristina Fé Santos, Ana Lourenço Godinho, Alberto Strazzera, José Gonçalo Duarte, António Correia Mendes, João Romão, João Guerreiro e Paulo M. M. Rodrigues.
Através dos vários textos, distribuídos pelos três referidos capítulos temáticos, os seus autores procuraram abordar o Turismo sob uma diversidade de perspetivas, relacionadas com: história, museologia, cultura, património, arqueologia, sustentabilidade, promoção, imprensa, saúde, paisagens, natureza, vias de comunicação, transportes e economia, numa interessante síntese entre as origens, percursos, constrangimentos e expectativas sobre a evolução do Turismo, neste seu complexo relacionamento com o Algarve.
A data da sua publicação, em 2015, foi escolhida precisamente para coincidir com as comemorações dos 100 anos do 1.º Congresso Regional Algarvio, realizado no Casino da Praia da Rocha entre 3 e 7 de setembro de 1915, em plena 1.ª Grande Guerra, o qual constituiu uma importante afirmação do regionalismo algarvio, unindo monárquicos e republicanos, acerca dos desafios e graves problemas que condicionavam o desenvolvimento da região.
O seu lançamento no Museu de Portimão, numa tertúlia especialmente articulada em colaboração com o Grupo de Amigos daquele museu, no qual igualmente se exibia a exposição temporária «1915 – O Despertar do Algarve», sobre esse memorável Congresso Regional Algarvio, acabou por se traduzir num excelente e oportuno momento para uma agradável visita guiada, complementando e valorizando desse modo todo o contexto de uma iniciativa, fortemente inspirada nas problemáticas do turismo da região.
O texto da autoria de Luís Guerreiro, integrado nesta edição da Promontoria Monográfica – História do Algarve, dá-nos conta dos preparativos e da organização da primeira ação de propaganda do Algarve, fora do nosso país, realizada através da deslocação de um grupo de jornalistas ingleses.
Esta iniciativa surgiria dois anos depois do IV Congresso Internacional do Turismo, ocorrido em Lisboa em maio de 1911, na sequência da frustração então sentida pelas entidades e personalidades algarvias, que viram goradas as suas expectativas de receber no Algarve a visita dos congressistas participantes neste IV Congresso, conforme lhes tinha sido prometido pela Sociedade de Propaganda de Portugal (S.P.P.).
Como forma de compensar o Algarve duma tal atitude de abandono e esquecimento, a S.P.P., através do dinâmico algarvio Jaime Pádua Franco, natural de Portimão e sócio-fundador da referida Sociedade, comprometeu-se a incluir a região num futuro roteiro, que viria a ter lugar em 1913, com a vinda do grupo de jornalistas ingleses.
A comitiva inglesa acabou por desembarcar no porto de Leixões, em 16 de fevereiro de 1913, percorreu o norte e o centro do país, passando igualmente por Sintra e Lisboa, tendo chegado ao Algarve no dia 24 de fevereiro.
Seguiram-se as receções oficiais e populares ao tão aguardado grupo de jornalistas, tendo estes visitado Portimão, Praia da Rocha, Monchique, Lagos, Praia da Luz, Faro, Estoi e ruínas de Milreu, terminando a sua viagem em Olhão, de onde partiriam no dia 25 para Lisboa.
Na sua conclusão, Luís Guerreiro considera bastante positiva esta iniciativa, entre outras desenvolvidas pela Sociedade de Propaganda de Portugal, pelo seu pioneirismo e impacto promocional, tanto para o Algarve como para o país, «porque deu a conhecer no estrangeiro as nossas belezas naturais e riquezas artísticas, no início de uma longa caminhada que conduziu à posição que, hoje, possuímos no contexto do turismo internacional».
Obrigado Luís!