O Mundo dos Insectos, em Querença
Os insectos estão em declínio. Estudos europeus e norte-americanos são inquietantes e apontam para o seu desaparecimento: o número de indivíduos de cada população já se reduziu para menos de metade. O debate actual e urgente sobre a crise planetária da biodiversidade acontece no sábado, dia 15 de Julho, pelas 18h00, na Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG), em Querença, Loulé.
O encontro insere-se na iniciativa Estudos Gerais Livres, grande projecto de vida do antropólogo e professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa que dá nome à Fundação, localizada numa aldeia do interior do concelho louletano.
A Aula Livre será proferida por Maria Rosa Paiva, professora catedrática de ecologia, DCEA (Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente), NOVA FCT, Universidade NOVA de Lisboa, e investigadora no CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade).
A palestra intitula-se Insectos: Engenheiros do Ambiente e suporte de vida na Terra e evidenciará a importância destes seres vivos, que constituem mais de metade das espécies com que compartimos a Terra, protagonistas da polinização, do controle biológico de pragas e doenças, da decomposição, formação do solo, purificação da água e alimento para outros seres vivos.
«Constatamos que quase todos os tipos de meios foram colonizados por insectos, desde o corpo humano às grutas, dos sistemas lacustres ao solo, fungos, plantas, animais e até mesmo aos canos de esgoto. Em cada tipo de ‘habitat’, desempenham os insectos funções especializadas, quais Engenheiros do Ambiente, assegurando assim a continuidade da vida no planeta.» – assegura Maria Rosa Paiva.
Um relatório das Nações Unidas de 2020 estima que mais de um milhão de espécies estão em perigo de extinção nas próximas décadas. No que respeita aos insectos, alguns estudos realizados nas regiões mais desenvolvidas, Europa e Estados Unidos, apontam para declínios muito substanciais da sua abundância.
O debate em torno da diminuição severa da biodiversidade será moderado por José Carlos Fernandes, engenheiro do ambiente: «O declínio das populações de insectos inspira preocupação aos que estão conscientes do papel que estes desempenham nos ecossistemas naturais, mas deveria inquietar também os que tendem a vê-los apenas como pragas a exterminar, uma vez que deles também depende a vitalidade da agricultura.»
Em contramão, aumenta o financiamento para pesquisa e conservação de insectos por parte de países como Alemanha, Suécia, Costa Rica e Estados Unidos. Por outro lado, regista-se um maior número de iniciativas promovidas pela sociedade civil que alertam para este flagelo, tentando centrar o mundo dos insectos no seu quotidiano.
Exposição artística ‘Artrópode’
Na iniciativa de Querença, estará patente uma exposição artística de insectos em grande escala. Artrópode tem a assinatura do fotógrafo Vítor Martins: «Os insectos, dotados de adaptações geniais, exibem-se aqui através de brilhantes exemplares de cor e forma, quase impossíveis de imaginar.» O fotógrafo destaca as opções da mostra: «Estas fotografias trazem-nos um pouco mais para perto destes animais, elevados pela lente assim como pelo grafismo artístico, onde podemos descobrir detalhes raramente observados.»
Artrópode estreia o Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro (PEB-MGG) como espaço expositivo, cumprindo a sua dimensão cultural. Tal como no jardim ‘in situ’, recentemente inaugurado pelo general António Ramalho Eanes, também poderemos observar estas imagens na sede da Fundação e na aldeia.
Após a palestra e o debate em torno da temática, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, encerra a sessão. Segue-se a inauguração da exposição composta por 20 imagens macro, patente na biblioteca da Fundação, no Centro de Estudos Algarvios Luís Guerreiro, na aldeia de Querença e no PEB-MGG.
Recorde-se que esta será a terceira Aula Livre, após a reactivação dos Estudos Gerais Livres no 4.º Festival Literário Internacional de Querença, promovido pela Fundação em 2019. A primeira convidada foi Francisca Van Dunem, magistrada e, na altura, ministra da Justiça. A 2.ª Aula ocorreu depois da pandemia, em parceria com a Fundação José Saramago, no centenário de nascimento do Nobel português da Literatura. Ambas as Aulas, da ex-ministra e de Pilar del Río, estão disponíveis em suporte papel na FMVG.
Esta iniciativa tem o apoio da Direcção Regional de Cultural do Algarve, da Câmara Municipal de Loulé e da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim.
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Mais sobre Maria Rosa Paiva
Professora Catedrática de Ecologia, DCEA (Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente), NOVA FCT, Universidade NOVA de Lisboa e Investigadora no CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade).
Doutoramento: Imperial College, Universidade de Londres, UK.
Investigação: Ecologia Química; Entomologia; Gestão Integrada de Culturas (IPM); Biodiversidade e Gestão Sustentável de Ecossistemas; Género e Ciência.
Experiência Profissional adquirida em: Universidade de Chapingo, México; Universidade Federal do Paraná, Brasil; Instituto CSIRO, Canberra, Austrália; Universidade de Hannover, Alemanha; Imperial College, UK; Universidade BOKU, Viena, Áustria. Comissão Europeia, Bruxelas, Bélgica.
Fundações e Sociedades Científicas: Fellow da Fundação Calouste Gulbenkian, PT e UK; Fellow da Royal Entomological Society (FRES), UK; Fellow da Fundação Alexander v. Humboldt, Alemanha; Membro honorário da Sociedade de Entomologia da China, Beijing, China; Membro Fundador e 1ª Vice-Presidente da Federação Europeia de Ecologia (EEF); Sócia Fundadora de várias Sociedades/Associações científicas em Portugal.
Mais sobre JOSÉ CARLOS FERNANDES
José Carlos Fernandes (n.1964, Loulé) licenciou-se em engenharia do ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e foi nesta faculdade que trabalhou como investigador na área da poluição por metais pesados. Após uma passagem pela Direcção-Geral de Recursos Naturais (na área da avaliação de impacte ambiental), rumou a sul, passando uma década como técnico do Parque Natural da Ria Formosa. Entre 2000 e 2007 dedicou-se exclusivamente à banda desenhada e ilustração e em 2007 começou a escrever sobre música e livros na revista Time Out Lisboa. Desde 2015 que é colaborador regular do jornal Observador, onde escreve artigos de fundo sobre assuntos tão diversos como onomástica, ópera barroca italiana, o Império Otomano, calçado, capitalismo, correcção política, o III Reich, arte contemporânea e alterações climáticas. Desde o início deste século que vive em Querença.
Mais sobre VÍTOR MARTINS
De nacionalidade portuguesa, residiu uma grande parte da vida nos Estados Unidos, porém, motivos de ordem pessoal levam ao seu retorno a Portugal.
Licenciado em Fotografia (Belas Artes) pelo Colégio de Santa Mónica e Instituto das Artes da Califórnia.
Experiência em fotografia comercial abrangendo as principais áreas, com destaque para a fotografia de automóveis. Em 2000 abriu uma galeria de arte Soapbox em Los Angeles, EUA, embarcando numa nova vertente dedicada à fotografia artística.
O trabalho artístico, em continuidade, é uma parte intrínseca da sua vida, assim como o desejo de contribuir para os papéis sociais da educação e do pensamento.
Mais sobre MANUEL VIEGAS GUERREIRO
Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997), natural do Cerro da Corte, Querença, doutorou-se em Etnologia. Antropólogo, era também profundo conhecedor de linguística. Foi “secretário” de José Leite de Vasconcellos e trabalhou com José Mattoso, Orlando Ribeiro, Jorge Dias, Lindley Cintra, João David Pinto-Correia, Margot Dias, Maria Aliete Galhoz, entre outros expoentes da vida académica do séc. XX. Na qualidade de investigador e etnógrafo, desenvolveu obras importantes junto de comunidades africanas, nomeadamente, os köisan de Angola e os Macondes de Moçambique. Professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa fundou, após a sua reforma, os Estudos Gerais Livres (ensino público gratuito), juntamente com o filósofo Agostinho da Silva e o advogado Alexandre Lafayette (1988). Tem vasta bibliografia publicada, constituída por monografias e artigos publicados em revistas da especialidade.
Mais sobre os Estudos Gerais Livres (EGL)
Ensino público gratuito criado por Manuel Viegas Guerreiro com Agostinho da Silva e Alexandre Lafayette. O antropólogo organizou, até ser acometido por um acidente vascular cerebral de que nunca recuperou, em 1996, um conjunto de cursos, conferências, visitas de estudo e aulas com os maiores nomes da ciência nacional. Entre eles, José Mattoso, recentemente falecido, João Barrento, Maria Rosa Bastos Busse, Galopim de Carvalho, Borges Coelho, Gastão Cruz, David Ferreira (último diretor dos EGL, na altura vice-reitor da Universidade de Lisboa), Maria Aliete Galhoz, Teresa Júdice Gamito, Joaquim Cerqueira Gonçalves (sucessor de Manuel Viegas Guerreiro na direcção dos EGL), Teresa Rita Lopes, Joaquim Magalhães, A. H. de Oliveira Marques, José Barata Moura, João David Pinto-Correia, Orlando Ribeiro e José Manuel Tengarrinha, integrados numa lista de cerca de 150 associados.
A transferência de um saber multidisciplinar de elevadíssima qualidade, que extravasava o saber formal, e acessível a todos – independentemente das habilitações literárias, classe social ou faixa etária – ocorria em qualquer ponto do país, mediante parcerias que o Professor estabelecia com os municípios. O projecto continuou para além da sua morte até 2001, somando mais de uma centena de Aulas.






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Mais sobre Maria Rosa Paiva
Professora Catedrática de Ecologia, DCEA (Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente), NOVA FCT, Universidade NOVA de Lisboa e Investigadora no CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade).
Doutoramento: Imperial College, Universidade de Londres, UK.
Investigação: Ecologia Química; Entomologia; Gestão Integrada de Culturas (IPM); Biodiversidade e Gestão Sustentável de Ecossistemas; Género e Ciência.
Experiência Profissional adquirida em: Universidade de Chapingo, México; Universidade Federal do Paraná, Brasil; Instituto CSIRO, Canberra, Austrália; Universidade de Hannover, Alemanha; Imperial College, UK; Universidade BOKU, Viena, Áustria. Comissão Europeia, Bruxelas, Bélgica.
Fundações e Sociedades Científicas: Fellow da Fundação Calouste Gulbenkian, PT e UK; Fellow da Royal Entomological Society (FRES), UK; Fellow da Fundação Alexander v. Humboldt, Alemanha; Membro honorário da Sociedade de Entomologia da China, Beijing, China; Membro Fundador e 1ª Vice-Presidente da Federação Europeia de Ecologia (EEF); Sócia Fundadora de várias Sociedades/Associações científicas em Portugal.
Mais sobre JOSÉ CARLOS FERNANDES
José Carlos Fernandes (n.1964, Loulé) licenciou-se em engenharia do ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e foi nesta faculdade que trabalhou como investigador na área da poluição por metais pesados. Após uma passagem pela Direcção-Geral de Recursos Naturais (na área da avaliação de impacte ambiental), rumou a sul, passando uma década como técnico do Parque Natural da Ria Formosa. Entre 2000 e 2007 dedicou-se exclusivamente à banda desenhada e ilustração e em 2007 começou a escrever sobre música e livros na revista ‘Time Out Lisboa’. Desde 2015 que é colaborador regular do jornal ‘Observador’, onde escreve artigos de fundo sobre assuntos tão diversos como onomástica, ópera barroca italiana, o Império Otomano, calçado, capitalismo, correcção política, o III Reich, arte contemporânea e alterações climáticas. Desde o início deste século que vive em Querença.
Mais sobre VÍTOR MARTINS
De nacionalidade portuguesa, residiu uma grande parte da vida nos Estados Unidos, porém, motivos de ordem pessoal levam ao seu retorno a Portugal.
Licenciado em Fotografia (Belas Artes) pelo Colégio de Santa Mónica e Instituto das Artes da Califórnia.
Experiência em fotografia comercial abrangendo as principais áreas, com destaque para a fotografia de automóveis. Em 2000 abriu uma galeria de arte ‘Soapbox’ em Los Angeles, EUA, embarcando numa nova vertente dedicada à fotografia artística.
O trabalho artístico, em continuidade, é uma parte intrínseca da sua vida, assim como o desejo de contribuir para os papéis sociais da educação e do pensamento.
Mais sobre MANUEL VIEGAS GUERREIRO
Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997), natural do Cerro da Corte, Querença, doutorou-se em Etnologia. Antropólogo, era também profundo conhecedor de linguística. Foi “secretário” de José Leite de Vasconcellos e trabalhou com José Mattoso, Orlando Ribeiro, Jorge Dias, Lindley Cintra, João David Pinto-Correia, Margot Dias, Maria Aliete Galhoz, entre outros expoentes da vida académica do séc. XX. Na qualidade de investigador e etnógrafo, desenvolveu obras importantes junto de comunidades africanas, nomeadamente, os köisan de Angola e os Macondes de Moçambique. Professor catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa fundou, após a sua reforma, os Estudos Gerais Livres (ensino público gratuito), juntamente com o filósofo Agostinho da Silva e o advogado Alexandre Lafayette (1988). Tem vasta bibliografia publicada, constituída por monografias e artigos publicados em revistas da especialidade.
Mais sobre os Estudos Gerais Livres (EGL)
Ensino público gratuito criado por Manuel Viegas Guerreiro com Agostinho da Silva e Alexandre Lafayette. O antropólogo organizou, até ser acometido por um acidente vascular cerebral de que nunca recuperou, em 1996, um conjunto de cursos, conferências, visitas de estudo e aulas com os maiores nomes da ciência nacional. Entre eles, José Mattoso, recentemente falecido, João Barrento, Maria Rosa Bastos Busse, Galopim de Carvalho, Borges Coelho, Gastão Cruz, David Ferreira (último diretor dos EGL, na altura vice-reitor da Universidade de Lisboa), Maria Aliete Galhoz, Teresa Júdice Gamito, Joaquim Cerqueira Gonçalves (sucessor de Manuel Viegas Guerreiro na direção dos EGL), Teresa Rita Lopes, Joaquim Magalhães, A. H. de Oliveira Marques, José Barata Moura, João David Pinto-Correia, Orlando Ribeiro e José Manuel Tengarrinha, integrados numa lista de cerca de 150 associados.
A transferência de um saber multidisciplinar de elevadíssima qualidade, que extravasava o saber formal, e acessível a todos – independentemente das habilitações literárias, classe social ou faixa etária – ocorria em qualquer ponto do país, mediante parcerias que o Professor estabelecia com os municípios. O projeto continuou para além da sua morte até 2001, somando mais de uma centena de ‘Aulas’.