Memórias de Filipa Faísca de Sousa ganham repositório online
Filipa Faísca, nascida em 1934 no Borno, Querença, artesã e poeta popular, é uma das mais reconhecidas embaixadoras da aldeia e guardiã da tradição oral serrana algarvia.
Incontornável no trabalho de recolha e de salvaguarda de orações, benzeduras, cantigas, lendas, romance e contos, Filipa Faísca foi contemporânea de Manuel Viegas Guerreiro e uma das informantes culturais do etnólogo, na aldeia-berço comum. Por várias vezes a levou à televisão para participar em programas sobre património imaterial e também à Fundação Calouste Gulbenkian.
O repositório agora criado pela União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, online, de acesso livre, inclui exclusivamente peças gravadas em vídeo. Encontra-se em actualização de um total de 88 vídeos. No futuro, será disponibilizado um conjunto documental composto por 337 papéis inventariados, um registo fotográfico com 434 espécimes e 48 ficheiros áudio. As recolhas prosseguem.
O tratamento técnico deste acervo decorre da colaboração, desde 2023, com o investigador Hélder Faustino Raimundo, com o objectivo de proceder ao registo de Querença no Quadro dos Conceitos de Património Cultural Imaterial.
«Este trabalho que temos vindo a desenvolver, de valorização, registo e divulgação do Património Cultural e Imaterial da Freguesia é essencial para nós. É essencial perpetuar memórias e conhecimento e, por isso mesmo, em 2024, decidimos uma nova aquisição de serviços para a produção de mecanismos culturais a partir dos registos de memórias de Filipa Faísca de Sousa.» – afirma Margarida Correia, presidente da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim.
Em Maio de 2024, celebrou-se na Fundação Manuel Viegas Guerreiro o 90.º aniversário de Filipa Faísca, numa festa promovida com a União de Freguesias. Apesar de em Portugal não existir, tal como no Brasil, o conceito de património vivo (tema das Jornadas Europeias do Património de 2023), o conselho de administração da Fundação propôs uma primeira iniciativa deste tipo, atribuindo a Filipa Faísca o título de Património Vivo de Querença, justificado pelo papel que esta desempenha na preservação, transmissão e recriação de várias formas da cultura popular, literatura e canto, e diferentes formas de artesanato.

Na fotografia: As várias gerações descendentes de Filipa Faísca no momento de fatiar o bolo e de partilhá-lo com familiares e amigos
FMVG, Querença, 22 de Maio de 2024
Recorde-se ainda que diversos registos de Filipa Faísca integram publicações da especialidade, como a obra em quatro volumes, Património Oral do Concelho de Loulé (2004-2011), num trabalho desenvolvido por Idália Farinho, Maria Aliete Galhoz e Isabel Cardigos. Aliado a este projecto, em 2019, é também lançada a Antologia de CD’s de Património Oral do Concelho de Loulé, na qual também se pode ouvir Filipa Faísca e as irmãs a cantar. Dois anos depois, Filipa Faísca volta a ser uma das fontes da colectânea Cancioneiro Popular de Concelho de Loulé (Câmara Municipal de Loulé, 2021).
Aqui e agora, pode consultar o repositório de acesso universal de parte do património oral de que Filipa Faísca é guardiã: https://www.youtube.com/@pciFilipaFa%C3%ADsca/videos