MEIO SÉCULO DE ALGARVE MONOCROMÁTICO
PELA LENTE DE JOÃO FAZENDA
AINDA À VISTA: TIME LAPSES: NO ALGARVE A PARAR O TEMPO.

Detalhe da fotografia À Meia Luz (Querença, 1996), de João Fazenda,
exposta na FMVG
Uma exposição, dois espaços culturais. No total, cerca de 50 imagens de João Fazenda, datadas da década de 70 do século passado até aos nossos dias, compõem esta mostra.
A inauguração da exposição decorreu no dia 24 de Janeiro, no Polo Museológico da Água e na Fundação Manuel Viegas Guerreiro. O desdobrar da exposição em dois lugares da aldeia, numa parceria com o Museu Municipal de Loulé, permite alargar o horizonte da lente do fotógrafo, na versão que mais prefere e que considera artisticamente mais criativa: a preto e branco.
Time Lapses corresponde a um corte no tempo, isolando o momento ou o objecto capturado num determinado instante. O fotógrafo explica: «Neste caso são imagens de um Algarve fugidio e mutável, real ou sonhado mas sempre belo, captadas por mim, com o meu olhar, com o meu imaginário subjacente, também marcados pelo tempo que passa. Por isso se diz que a fotografia não representa a realidade, mas sim a realidade “filtrada” pelo imaginário do fotógrafo.» João Fazenda cita Henri Matisse: «Tudo o que fiz, foi tudo o que vi.» (Je suis fait de tous ce que j’ai vu.) e enfatiza que o olhar que agora expõe vislumbra o caminho já percorrido. Por essa razão, decidiu incluir auto-retratos de diferentes épocas, evidenciando como o tempo o transformou. O artista cita Fernando Pessoa: «O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.»
João Fazenda “ensaiou” fotografia com as máquinas do pai. Aos 15 anos usa uma Kodak de fole. Oito anos depois, em 1970, adquire uma câmera reflex Pentax, em Hong Kong. Hoje soma cerca de três dezenas de exposições, entre individuais e colectivas. Foi premiado em concursos nacionais e internacionais de arte fotográfica em Portugal, Espanha, ex-Jugoslávia, Brasil e Moçambique. Em 2014, expõe em Londres, Paris e Madrid. A Biblioteca Municipal dos Coruchéus, em Lisboa, integra uma das suas fotografias na decoração. Time Lapses é a sua quarta exposição sobre o Algarve. Antes de chegar a Querença, a mostra esteve em Faro com 80 fotografias (2018), Olhão (2018), Silves (2022), Albufeira (2022-23) e São Brás de Alportel (2023-24).
Em Loulé, João Fazenda fechou a sua apresentação com António Aleixo. Do livro Intencionais (Círculo Cultural do Algarve, Faro, 1945) leu a quadra:
A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente.
Time Lapses pode ser visitada até ao final de Abril na Fundação, de 2.ª a 6.ª feira, entre as 9h30 e as 17h00. No Polo Museológico da Água, nos mesmos dias, mas entre as 9h00 e as 17h00. Em ambos os locais a pausa para o almoço decorre das 13h00 às 14h00. Entrada livre.