FMVG: do berço à idade adulta
A história da Fundação escreve-se com letras de amor e afectos à terra que viu nascer Manuel Viegas Guerreiro e outros nomes das artes e das letras. Na sua génese esteve a doação do terreno onde viria a crescer o actual edifício-sede, a Biblioteca-Museu do patrono, os jardins e o restaurante da Fundação.
Em Junho, a FMVG propõe-se fazer esse reconto. Será no dia 28, sábado, pelas 18h30. Como? «Relembrando o momento do encontro de ideias que levou à criação deste espaço de cultura.» – destaca o presidente da Fundação, João Silva Miguel.
O programa contempla uma nova Aula Livre, no âmbito dos Estudos Gerais Livres, que o Professor Viegas Guerreiro empreendeu ombreado por Agostinho da Silva. Vincula-se a ligação umbilical entre valores e obra do patrono e a Casa que tem o seu nome: «Escolhemos esta data para a 5.ª Aula Livre pelo simbolismo nos desígnios da Fundação e por ser uma ideia emblemática do patrono. Juntamos a tudo isto, uma confraternização com a comunidade, partilhando saberes e vivências.» – acrescenta João Silva Miguel.
Muito em breve, a Fundação apresentará a estória desde o seu início até aos nossos dias. A exposição estará patente no Centro de Estudos Algarvios Luís Guerreiro e está a ser organizada por Ana Poeta. Colaboradora da Fundação há cerca de um ano, aceitou o desafio de desenhar a narrativa que nos revela o crescimento desta instituição através de um olhar mais neutro que o daqueles que a seguem há décadas no caminho do desenvolvimento integral e integrado, a partir do interior do Algarve.
«Se a Fundação é a entidade de referência no que concerne ao espólio e aos estudos de Manuel Viegas Guerreiro, é à Maria da Conceição (viúva de Viegas Guerreiro), à sua generosidade e grandeza que o devemos. Mas é também ao amor de Luís Guerreiro pela Cultura, pelo Professor, pela terra, pela persistência e resistência em querer perpetuar o legado de MVG e de repor em Querença a história de Conceição e Manuel. Mas outros amores têm alimentado a Fundação.» – sugere Ana Poeta.
A exposição dos 25 anos da Fundação traz à luz do dia mapas, cartazes, manuscritos, documentos, fotografias e folhetos que narram e ilustram este primeiro quarto de século de existência, em torno do livro e da cultura.



O FLIQ – Festival Literário Internacional de Querença é a face mais visível dessa matriz. Com uma duração de três dias, estreou-se em 2016. A sua 5.ª edição, a decorrer entre 19 e 21 de Setembro deste ano, intitula-se Os grandes navios da Terra, homenagem a Lídia Jorge, a partir do poema narrativo da premiada escritora: Alfarrobeira no caminho.
A Fundação orgulha-se de celebrar no FLIQ tão significativo tributo a um dos maiores nomes das Letras a nível mundial. Pensado desde 2020, tem vindo a ser preparado mais exaustivamente desde o ano passado. Esta homenagem, coincidente com os 25 anos da Fundação, assume assim um elevado valor simbólico.
Os primeiros passos da Fundação
Mas outros intentos fundam o currículo da Fundação, inaugurada oficialmente no dia 28 de Agosto de 2009, numa cerimónia presidida pelo então Chefe de Estado, Cavaco Silva. Olhando para o início da sua actividade, encontramos uma iniciativa que envolveu a Fundação, a Universidade do Algarve, estudantes universitários e a comunidade de Querença: o Projecto de Querença 1, com o lema: Da Teoria à Acção, aprender a empreender. O projecto-piloto de Querença teve início de implantação no território em 2011.
Antes disso, entre 2002 e 2009, a Fundação promoveu o Plano de Recuperação e Valorização do Património e da Paisagem Rural da Freguesia de Querença. E entre 2003 e 2007, promoveu e geriu o Projecto de Recuperação de Habitação Rural de Traça Tradicional.
Ao longo do tempo, tem vindo a incentivar a investigação nas áreas de natureza social, cultural e ambiental. Nessa senda, em 2017, a Fundação promoveu o Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro, com autoria de Fernando Santos Pessoa, assente no riquíssimo património florístico e vegetal do território do barrocal e serrano, privilegiando a floresta mediterrânica. Este constitui um laboratório para estudar a resiliência das espécies em linha com a Ação Climática, tendo sido inaugurado em 2023, com a presença do general Ramalho Eanes.
De forma mais fina, os estudos têm-se desenvolvido sob a alçada da antropologia e literatura oral através da divulgação dos estudos do patrono, através da salvaguarda do seu espólio e da publicação inédita dos seus estudos, bem como de ideias de sua autoria, como é o caso dos Estudos Gerais Livres – ensino público gratuito – modelo de ensino não formal criado em 1989. A rubrica Viagens pela Obra de Manuel Viegas Guerreiro permite a releitura dos seus textos por investigadores e personalidades das diversas áreas de conhecimento. Os ensaios, mais de 20, podem ser consultados no website da Fundação, em https://www.fundacao-mvg.pt/home/viagens-pela-obra-de-mvg/.
A Fundação edita livros como a Fotobiografia de Manuel Gomes Guerreiro (2007) e a Fotobiografia de Cândido Guerreiro (2016), os Catálogos de cada edição do FLIQ, entre outros. Mantém-se uma revista trimestral – Raiz, ainda jovem, totalizando 41 números – e produzem-se as brochuras das Aulas Livres, disponibilizadas gratuitamente em suportes papel e digital.



Tendo contado com o apoio sempre presente do Município de Loulé, da Junta de Freguesia local, da extinta Direcção Regional de Cultura do Algarve e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, a FMVG actua em sintonia com agentes culturais e outras entidades de âmbito local, regional, nacional e internacional. Apostada numa relação de proximidade com a Academia, agrupamentos escolares e população, a Fundação desenvolve a sua acção dinamizando várias iniciativas nos seus equipamentos e na aldeia de Querença, contribuindo para a democratização da Cultura, no combate ao isolamento dos residentes, gerando novas aprendizagens junto da comunidade estudantil, em contexto não formal.
A Fundação cumpre-se promovendo uma actividade contínua no estímulo à interculturalidade geracional para uma melhor compreensão da diversidade cultural, da valorização do património tradicional e integração das várias comunidades, contribuindo para o diálogo e para a harmonia.
Com orgulho do passado, olha-se o futuro, confiantes nos valores do patrono e fidelizados aos fins da Fundação, na promoção do desenvolvimento regional a partir do interior do Algarve.