FLIQ 2025 arranca sexta-feira com feliz homenagem a Lídia Jorge
A Palavra centraliza Querença na agenda cultural dos próximos dias. O Festival Literário Internacional de Querença (FLIQ), promovido pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG), regressa entre os dias 19 e 21 de Setembro com uma grande homenagem à escritora Lídia Jorge.
«O mundo das palavras é um mundo incrível. As palavras são apenas risquinhos pretos sobre superfícies brancas e formam uma cadeia mental, ininterrupta.» Parafraseando a autora laureada, abre-se o livro de um programa que percorre a palavra escrita, dita, lembrada, cantada, discutida.
“Os grandes navios da Terra”, ideia retirada do livro de Lídia Jorge “O Vale da Paixão”, titula a 5.ª edição do FLIQ. O poema narrativo “Alfarrobeira do caminho” constitui a raiz deste regresso do encontro literário de Querença, de onde a Fundação parte para homenagear uma das figuras maiores da Literatura nacional e do mundo.
As Cátedras Lídia Jorge fazem-se representar, tal como uma plêiade de académicos, para falar da obra da prestigiada escritora. Leituras, música, exposições documentais e artísticas, oficinas, feira do livro, uma instalação sonora e um passeio pedestre contextualizam alguns dos encontros emoldurados pela natureza e suas cores, texturas, aromas, e até sabores.
Um concerto com a Orquestra do Algarve marca a primeira noite da homenagem, na sexta-feira, pelas 21h00. Estreia mundial da peça de João Nascimento, intitulada O Diamante de Milene, criada a partir de outro livro de Lídia Jorge: “O Vento Assobiando nas Gruas”, uma encomenda da Fundação ao compositor. Amélia Muge e Filipe Raposo também prometem inéditos no sábado à noite.
A Palavra dita e debatida
Contudo, a festa da Cultura começa antes, ao final da tarde de dia 19 com uma palestra de Viriato Soromenho-Marques, professor catedrático da Universidade de Lisboa, intitulada “A Literatura entre Memória e Utopia”. Está agendada para as 19h45.
Raiz, infância e utopia perpassam os três dias do FLIQ e emergem na edição de 2025 através dos saberes de personalidades como Antonio Sáez Delgado, Carlos Reis, Catherine Dumas, Conceição Brandão, Guilherme d’Oliveira Martins, José Carlos Barros, Maurício Vieira, Paulo Guerra, Pierre Léglise-Costa, Pilar del Río, Rui Diniz Monteiro e tantos outros ligados ao Livro e à(s) sua(s) leitura(s).
Os oradores estão distribuídos por palestras ao longo dos três dias e por duas conferências, no sábado. A da manhã, “A escrita da Terra”, pelas 10h30, é moderada por Manuel Célio Conceição, professor associado na Universidade do Algarve. A da tarde, “Caminhos para o Mundo”, pelas 15h50, tem moderação de Maria João Costa, jornalista.
A Palavra cantada
“Pelo fio dos versos, assim a casa seja” dá título às leituras musicadas por Amélia Muge e Filipe Raposo, agendadas para sábado, às 21h00, dia em que se sumaria também, à tarde, a presença de um grupo juvenil do Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado, através de um Ensemble de Flautas. Na abertura, na sexta-feira, pode ouvir o saxofonista Petru Moroi.
As múltiplas dimensões de Lídia Jorge apresentam-se ainda através da exposição documental“Lídia Jorge: O poder transfigurador da Literatura”, comissariada por Salvador Santos, editor e escritor.
FLIQ: Poesia e Artes
Numa incursão pelas artes plásticas, o coletivo ibérico “Women’s Art”, expõe duas mostras. “Raiz Mulher” constitui uma obra composta por dez mosaicos pintados a partir de um retrato de Lídia Jorge, da autoria de Alfredo Cunha. Uma segunda exposição, “Eco(s) Pintura”, exibe dez obras das coleções particulares das dez artistas convidadas.
De Vila Real de Santo António chega-nos a banda desenhada “O dia em que os desenhos falaram”, realizada por estudantes do 6.º ano de escolaridade sob orientação da professora de Educação Visual Elisabete Guerreiro, ao longo do último ano letivo, na escola Infante D. Fernando, Vila Nova de Cacela.
A celebração das Letras e das Ideias manifesta-se ainda através da instalação sonora “Lídia Jorge: 50 Postos de Escuta”, com autoria e curadoria de Marinela Malveiro, jornalista e colaboradora da FMVG. A sua raiz: uma entrevista realizada junto da homenageada, no ano de 2016. As reflexões de Lídia Jorge versam em torno de temas tão vastos e abrangentes como da infância à idade maior, do futebol à “armadilha internacional”, do ofício ao ócio. Poderão ser ouvidas num percurso auditivo disperso por Querença, com ponto de partida e chegada em dois bancos de jardim. O primeiro no Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro e o último, junto ao Lar de Querença, ligando 50 ideias da escritora a 50 lugares da aldeia.
Um quarteirão de citações retiradas da obra da escritora, colocadas no exterior, também entram em diálogo com o público participante. Poesia do mundo e frases emblemáticas serão plantadas por todos/as ao longo do FLIQ para florir no encerramento, lidas em voz alta. Trata-se da eco-instalação “Plantar Poesia na Paisagem”, promovida pela Fundação.
O FLIQ irá fluir por vários palcos, interiores e exteriores, envolvido pelo riquíssimo património vegetal e geológico de Querença. Sob a égide de “O mar dos grandes navios da Terra”, terá lugar um passeio pedestre no entorno da aldeia, com orientação do Museu Municipal de Loulé.
O FLIQ tem o Alto Patrocínio da Presidência da República e o apoio institucional da Unidade de Cultura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. É apoiado pela Câmara Municipal de Loulé, pela União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, Fundação Calouste Gulbenkian e Teatro Nacional D. Maria II.
São parceiros do evento: a Universidade do Algarve, a Fundação José Saramago, o Município de Vila Real de Sto António, o Agrupamento de Escolas Vertical de Vila Real de Sto António e Livros da Ria Formosa.
O FLIQ 2025 tem a Antena 1 como media patner.
A partir da edição de 2025, o FLIQ assume periodicidade bianual.
Filme promocional do FLIQ 2025, “Os grandes navios da Terra, Homenagem a Lídia Jorge”: https://youtu.be/23G-9XuHMv0 (3’35’’) e https://youtu.be/Qbmsy44_igo?si=QmLZX8SIhMO1PAR4 (1 minuto).
MAIS SOBRE A ESCRITORA HOMENAGEADA | Lídia Jorge estreou-se em 1980 com o romance “O Dia dos Prodígios”, mas foi com “A Costa dos Murmúrios”, publicado em 1988, que a sua obra se afirmou em Portugal e no estrangeiro. Além de romance, tem publicado contos, ensaios, crónicas, teatro e livros para a infância. Entre os títulos mais destacados no domínio da ficção, contam-se “O Vale da Paixão”, “O Vento Assobiando nas Gruas”, “Os Memoráveis” ou, mais recentemente, “Misericórdia”. Os seus livros estão traduzidos em mais de vinte línguas tendo recebido os principais prémios nacionais e vários estrangeiros, entre eles o Prémio Albatros da Fundação Günter Grass, o Prémio FIL de Literaturas em Línguas Românicas de Guadalajara ou, mais recentemente, o Prémio Médicis Étranger de 2023. A Costa dos Murmúrios e O Vento Assobiando nas Gruas foram adaptados ao cinema, respetivamente, por Margarida Cardoso e por Jeanne Waltz. Lídia Jorge é cronista assídua do Jornal de Letras, Público e El País. Desde Março de 2021, é também membro do Conselho de Estado.